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Após Feliciano, reunião de comissão virou 'guerra santa', diz deputado

Para Silvio Costa, houve 'massacre regimental' na sessão desta terça.
Marco Feliciano reclamou que colegiado não pode virar 'chacota nacional'.

Após novos tumultos no plenário da Comissão de Direitos Humanos, que levaram o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) a restringir mais uma vez o acesso do público à sessão, integrantes da bancada evangélica travaram nesta quarta-feira (10) debates acalorados com parlamentares do PT e do PTB.
Ao final da reunião, o deputado Silvio Costa (PTB-PE), que não é integrante da comissão, reclamou que os encontros do colegiado se transformaram em uma “guerra santa”.
“Todo mundo tem o direito de ser evangélico, como todo mundo tem o direito de ser gay. Parece que nesta comissão tem um grupo de evangélicos, tem um grupo de gays e parece que tem até gente acumulando. Percebi hoje aqui que está estabelecida uma guerra santa”, ironizou Costa.
A segunda etapa da sessão do colegiado, realizada no plenário da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), foi marcada por embates contundentes entre a deputada Erika Kokay (PT-DF), ligada a movimentos sociais, e parlamentares evangélicos. Logo na reabertura do encontro, a petista reclamou da decisão monocrática do parlamentar paulista de trocar a sessão de sala e impedir a entrada dos manifestantes.
Inconformada com a medida, Erika anunciou no plenário que iria obstruir as votações por não reconhecer a eleição de Feliciano para o comando do colegiado. Disse ainda que declarações do parlamentar do PSC incitam a violência.
“Intolerância é amaldiçoar todo um continente. Estimular a subalternização de um ser humano significa criar uma lógica de violência simbólica. No ano passado, 83 travestis foram assassinados com requintes de violência”, disse.
Em 2011, Feliciano escreveu no microblog Twitter que africanos "descendem de ancestrais amaldiçoados por Noé" e afirmou que gays têm "podridão de sentimentos" que, segundo ele, "levam ao ódio, ao crime e à rejeição".
Diante do protesto da parlamentar do PT, o deputado Roberto de Lucena (PV-SP) pediu a palavra para defender o funcionamento da comissão. “Faço apelo à deputada Erika Kokay, que é uma das deputadas mais competentes dessa Casa. Eu respeito a pessoa que é coerente e se dedica. O que aconteceu em relação à eleição está encerrada, ela foi legitima. Em nome da tolerância, se usa a intolerância como arma”, argumentou Lucena.
Na esteira do comentário, o deputado Henrique Afonso (PV-AC) disse que o PT estava sendo “intolerante”. “O que estou vendo é a intolerância por parte do PT e do PSOL, que todas as vezes tomam a palavra e dizem: ‘O senhor não tem legitimidade’. Se essa moda pega, teremos muita dificuldade para estabelecer nossas relações democráticas”, reclamou o parlamentar do Acre.
Durante a votação de requerimentos que estavam em pauta, a discussão entre os parlamentares continuou. Erika Kokay pediu a palavra algumas vezes para fazer críticas ao atual comando da comissão.
Irritado com a postura da petista, o deputado Hidekazu Takayama (PSC-PR), que é ministro evangélico, chamou Erika de “mal educada”. “Quem está gritando aqui é a deputada, mal educada, que quer inviabilizar a sessão”, disse.

'Massacre regimental'

No final do encontro, Silvio Costa pediu a palavra a Feliciano para criticar a maioria pentecostal que integra o colegiado. Ele reclamou que os parlamentares evangélicos haviam cometido um “massacre regimental” para inviabilizar as reivindicações da parlamentar petista.
“Estou cada dia mais preocupado com o que está acontecendo aqui. Hoje, pude presenciar uma coisa que posso chamar de “massacre regimental. Na mesa, há quatro evangélicos”, enfatizou. Antes mesmo de concluir a frase, Costa foi interrompido pela deputada Lilian Sá (PSD-RJ), da bancada evangélica.
“Aqui, tem quatro deputados. Eu sou evangélica, mas aqui tem quatro deputados”, protestou.
Liliam foi apoiada pelo deputado Anderson Ferreira (PR-PE), que ressaltou que Silvio Costa nem sequer teria o direito de estar se manifestando na comissão, já que não faz parte do colegiado.
“Quero dizer que na bíblia está escrito: ‘perdoe aqueles que não sabem o que dizem’”, respondeu Costa, alegando que o regimento interno da Casa permite manifestações dos parlamentares em comissões, mesmo que eles não sejam titulares ou suplentes dos órgãos.
Imediatamente, Feliciano interveio: “Isso não está escrito na bíblia, deputado”. O comentário provocou risos na sessão.
O presidente da comissão também afirmou que o deputado do PTB havia “pego o bonde andando” ao tentar defender Erika Kokay e que o colegiado não poderia virar “chacota nacional”.
“Temos um monte de coisas para serem votadas e a nobre deputada [Erika Kokay] tentou de todas as formas possíveis o embargo das votações. Essa comissão não pode virar chacota nacional. Nós votamos coisas sérias aqui e vamos continuar votando”, disse Feliciano.
Impedidos de acompanhar a sessão devido aos protestos que realizaram nos primeiros minutos do encontro desta quarta da Comissão de Direitos Humanos, simpatizantes e opositores de Feliciano permaneceram na Câmara mesmo depois da troca de plenário.

Manifestantes fora
Após os tumultos, a Polícia Legislativa bloqueou os corredores que davam acesso à reunião. Por ordem do presidente do colegiado, apenas parlamentares, funcionários da Câmara e jornalistas puderam assistir a segunda etapa da sessão.
Os manifestantes que defendiam Feliciano se concentraram no espaço Mário Covas, uma das principais vias de acesso aos gabinetes e ao corredor dos plenários das comissões. Eles rezaram e cantaram músicas gospel em apoio ao deputado do PSC.
Enquanto isso, os integrantes de movimentos sociais que pediam a renúncia de Feliciano adotaram uma estratégia diferentes dos barulhentos protestos das últimas semanas. Com fitas vermelhas na boca, ele fizeram uma manifestação silenciosa. Em vez dos gritos de ordem e apitações, desta vez, os ativistas apenas ergueram cartazes que pediam a saída de Feliciano do colegiado.


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