O primeiro debate deste processo eleitoral, realizado na noite dessa
terça-feira, 19, pela TV Bandeirantes, no Teatro Fernanda Montenegro,
foi marcado pela falta de propostas e excesso de ataques entre os
principais candidatos a governador - Marcelo Miranda (PMDB), Sandoval
Cardoso (SD) e Ataídes Oliveira (Pros). Os candidatos "nanicos" se
mantiveram moderados, mas faltou conteúdo em suas perguntas e respostas.
Os infindáveis bate-bocas e alfinetadas começaram a partir do segundo
bloco quando os candidatos fizeram perguntas entre si. A candidata do
Psol, Eula Angelim, lembrou que o candidato da coligação "A Experiência
Faz a Mudança", Marcelo Miranda, foi eleito senador em 2010 e não
assumiu. Marcelo atribuiu a culpa ao "grupo político que não conseguiu
assimilar a derrota" e o "perseguiu esses anos todos". "Sempre bati na
tecla de que estava elegível. O TRE [Tribunal Regional Eleitoral] me deu
o registro. Estou tranquilo. Não há insegurança juridica. Durmo
tranquilo", garantiu o peemedebista.
Respondendo pergunta do candidato da coligação "A Mudança que a Gente
Vê", Sandoval Cardoso, sobre o endividamento do Tocantins e a
necessidade de novos financiamentos, Ataídes, da coligação "Reage
Tocantins" - diga-se: o que mais apresentou de ações concretas para
Estado entre os três principais nomes da disputa -, afirmou que o
problema do Tocantins não são só as dívidas. "Mas a sangria do dinheiro
público, na chamada corrupção, e o descontrole das contas públicas",
avaliou. Ele defendeu que é preciso equilibrar as contas públicas,
atacar a corrução, reduzir impostos e energia para alavancar o Estado e
atrair investimentos.
"São R$ 40 milhões gastos com aeronaves contratadas pelo governo para
ficarem passeando e depois, o Cauã, de Colinas, tem um problema de saúde
e morre porque não tinha um monomotor sequer para socorrê-lo",
criticou, numa referência a um episódio de cerca de 60 dias. Ataídes
defendeu que o Tocantins "precisa crescer, mas falta competência,
honestidade e mais compromisso com Deus".
Sempre voltando a artilharia para Marcelo Miranda, Sandoval, na réplica,
disse que a saúde do Tocantins ficou "mais de dez anos sem
investimentos". "Me solidarizo com as vítimas [dos problemas da saúde]. E
cancelei o contrato com a UTI aérea e contratei outra bem rapido",
disse o governador ainda sobre o episódio de Colinas.
Na tréplica, Ataídes lançou uma alfinetada em Sandoval, ao dizer que ele
era "fruto de um projeto de laboratório". O candidato do Pros ainda
afirmou que o governador não pagou a empresa de transporte aéreo, à qual
estaria devendo R$ 3 milhões.
Continuidade de Siqueira
Em seguida, Marcelo perguntou a Sandoval por que quer dar continuidade
ao governo de Siqueira Campos, "que prometeu dois hospitais e não fez
nenhum". "Do qual [governo Siqueira] o senhor fez parte como secretário e
indicou quatro outros secretários", cutucou o ex-governador.
Sandoval devolveu com outra alfinetada, lembrando que sempre foi eleito
pela oposição a Siqueira, mas que foi Marcelo quem se elegeu "na
primeira e na segunda vez" no grupo do ex-governador. "Construo a minha
história pautado na honradez e competencia. Tenho conversado com o
Estado para fazer boa administração no Tocantins, diferente da sua",
disparou o governador.
Ele afirmou que faz dez anos que o Estado está sem investimentos na
saúde. "Não construiu sequer um leito, o que gerou a situação caótica de
hoje, que não é de quatro meses. É preciso ver em qual governo foram
desviados recursos", e arrebatou: "Com empresa de parentes seus. O
Ministério Público pediu para o senhor devolver recursos. A Oscip
[Brasil] é de parente do senhor. Os seus bens estão bloqueados".
"Batom"
Marcelo devolveu dizendo que Sandoval foi deputado do seu governo. "Não
fiz muito, os recursos foram poucos. Mas terminei o governo com um
indice mais alto de aprovação. Administrei com respeito e transparência,
o que está faltando agora, e não adianta passar 'batom' nos hospitais
de Gurupi e Araguaína", disse o ex-governador.
Sandoval respondeu, na tréplica, que Marcelo foi para o PMDB quando ele
já estava no partido e que sempre foi eleito por seus méritos. "Na
Assembleia, rejeitei sua conta, não queira me colar nos seus atos",
afirmou o governador.
Depois Sandoval voltou a artilharia para Ataídes, num direito de
resposta sobre a declaração do candidato da coligação "Reage Tocantins"
de que o governador seria "um projeto de laboratório": "Peço ao senador
que não me meça com sua regua. Fala tanto de nova politica. Achei que
era diferente. Respeite minha família. Tem que assumir a sua
responsabilidade de senador. O Estado há muito tempo vem com muita
lambança. Não é hora de ceifar. Busquei sua ajuda e até agora não
recebi. Mas o Palácio está aberto e espero contar com a sua ajuda".
Mais à frente, Ataídes respondeu que trouxe, como senador, R$ 200
milhões para o Estado. "Até agora esse dinheiro não chegou", ironizou
Sandoval em seguida.
Dormir em paz
O candidato do PRTB, Luiz Cláudio, conseguiu irritar Marcelo e Sandoval
ao afirmar que não sabia como os dois conseguem dormir em paz com a
situação em que deixaram o Estado e os acusou de empregarem cabos
eleitorais no governo. os dois pediram direito de resposta, que foi
concedido. "Tenho buscado trabalhar muito. Tirei a jornada de seis
horas, tenho valorizado os servidores, e, se houver alguém em secretaria
ganhando sem trabalhar, vai ser demitido imediatamente", avisou
Sandoval.
Marcelo respondeu que "o pouco" que dorme, o faz "de consciência
tranquila". "Vejo lá na frente o que queremos fazer. Tudo que fizemos
foi pensando no cidadão tocantinense. Sou mais um pai de família que
torce pelo Tocantins e conhece o Tocantins. Tive sete mandatos e comheço
os 139 municípios", afirmou.
Novo confronto
Sandoval e Marcelo voltaram a "se pegar" no terceiro bloco. O governador
leu duas manchetes de jornal da época de poder do peemedebista - uma
denunciava falta de remédio e em outra o Ministério Público acusava a
gestão de falta de compromisso com o Estado. "O senhor foi governador
oito anos, quer dizer, sete anos, porque foi cassado", fez questão de
rassaltar Sandoval, e perguntou qual foi o planejamento do ex-governador
para o Estado.
Marcelo voltou, então, a afirmar que Sandoval fez parte do governo dele,
ao integrar a base na Assembleia, e aprovou todos os projetos que o
Executivo na época enviou ao Legislativo. "Não adianta querer enganar a
população. Não dá mais. A saúde virou um caos. o senhor tem que assumir o
'seu lado político'", afirmou o ex-governador.
Sandoval, na tréplica, perguntou se Marcelo estava querendo passar a
responsabilidade que tinha quando governador a ele, que era apenas um
deputado. "Estranho falar isso o tempo todo. E não respondeu sobre o
planejamento porque não teve planejamento em sua gestão", atacou o
governador. Segundo ele, no atual governo há planejamento. "Estamos
fazendo mais de 800 leitos de hospitais", disse para cutucar de novo, em
seguida: "Empresários ainda vêm e cobram conta de sua epoca, de 2008".
O governador lembrou que houve secretário de saúde do governo Marcelo
"que teve prisão decretada". Segundo Sandoval, essa ação foi resultado
de uma denúncia levada pelo atual candidato a vice de Miranda, Marcelo
Lelis (PV), ao Ministério Público. "Vocês se entenderam e fizeram um
acordo para seu vice retirar a ação?", ironizou Sandoval.
Marcelo respondeu que Lelis sempre o respeitou, mesmo quando integrava a
oposição na Assembleia. "[Lelis] não rejeitou minhas contas, que foram
rejeitadas porque companheiros não tiveram a dignidade e a honra de
respeitar o governador daquela época, que teve aprovação em todos os
setores da administracao pública", afirmou o ex-governador.
Falta competência
O candidato Ataídes Oliveira, ao responder questão de Marcelo sobre a
construção de moradias, disse que existe um déficit habitacional no
Estado de 93 mil residências, e que isso ocorreu porque os governos não
souberam tirar proveito do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo
federal. Ele provocou Sandoval dizendo que queria fazer muitas perguntas
ao governador, mas o candidato palaciano "não saberia responder". "Está
há 120 dias no governo e não sabe ainda quais são os problemas do
Estado", disse. Mas, apesar das muitas perguntas, não pode fazer nenhuma
porque estourou o tempo.
Sandoval aproveitou para responder que Ataídes não conhece um décimo que
ele sabe sobre o Tocantins. "E conheço o povo do Estado", garantiu.
Na réplica, Ataídes voltou a provocar Sandoval, perguntando que se não
fosse "o Siqueira e o Siqueirinha [Eduardo Siqueira Campos", se ele
seria governador. O candidato palaciano respondeu que "respeita as
pessoas" e "reconhece o que de bom fizeram pelo Estado". "E o Tocantins
sabe que Siqueira Campos fez muito pelo Estado", disse.
Sandoval afirmou que "não cospe no prato que come". "Ao contrário do
senhor [para Ataídes], que é senador hoje porque foi indicado suplente
de senador com Siqueira [em 2010]. E é preciso lembrar que o senhor é
candidato sob liminar porque fez doação ilegal ao Siqueira",
contra-atacou o governador.
Recuaram
No quarto bloco, houve "uma trégua", com os dois candidatos que tiveram
mais em choque perguntando para "nanincos", mesmo tendo oportunidade
para perguntarem entre si. Marcelo preferiu questionar o comunista
Carlos Pontegy (PCB) e Sandoval dirigiu sua pergunta para Eula, do Psol.
Um último pega ocorreu quando Ataídes afirmou que Marcelo Miranda teria
tido encontros "às escondidas", num restaurante em Goiânia, com o
ex-secretário estadual de Relações Institucionais Eduardo Siqueira
Campos (PTB). Indignado, Marcelo garantiu que não era verdade. "Não
poderia olhar para a minha familia e meus filhos se fizesse isso",
reagiu o ex-governador.
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